domingo, junho 26, 2005

Mas quais pretos quais quê?

Atribuir as culpas do arrastão (e de outros fenómenos naturais) aos pretos? Não, claro que não. Todos nós já sabemos que a culpa foi do actor Ricardo Pereira, que trouxe franchising para Portugal.

domingo, junho 19, 2005

Pequeno pormenor!

Em todos os textos com o título "Ideias diferentes, mas todos iguais" (excepto o resumé) há uma referência ao "cigarrinho traçado". Quem não souber o que significa, não interessa muito... é apenas uma droga, como eu tentei dar a entender. Queria só dizer, é que isso não é mais um dos muitos exageros dos textos... Infelizmente, e quanto mais ando por Lisboa, mais me certifico disso, é a realidade. Foi a única caracteristica forte e comum nos "3 lados da moeda" que eu consegui arranjar. Com muita pena minha...

Ideias diferentes, mas todos iguais (resumé)

Para começar queria-me desculpar de 2 coisas:

1ª Não escrever há muito tempo, mas não havia muita inspiração, e havia também outras prioridades.

2ª A linguagem utilizada nos últimos 3 posts. Foi só para dar ênfase aos três lados da moeda. Sim 3 lados... eu sei que só se costuma dizer que tem dois, mas há sempre a possibilidade da moeda ficar de pé.

Este resumé, serve para explicar que estes últimos 3 posts foram apenas um possível (porque neste momento nada é impossível) espelho do futuro. Em qualquer dos lados, qualquer dia destes pode haver um diálogo parecido aos que eu inventei. Isto também, porque as palavras e expressões mais fortes dos diálogos foram retiradas de excertos da realidade. Exemplo: No texto Lado "cabeça branca, roupa negra", a palavra escumalha refere-se ás pessoas de raça africana. Foi retirada de uma aula de código, quando um senhor com ar de quem andou na guerra em 1978 e que não se lava desde aí, com uma camisola branca à camionista, uma águia enorme nas costas, e com um tique na mão direita duvidoso (eu sei que é uma junção irreal, mas é a verdade, porque já tive 3 aulas de código com ele, e o já avaliei bem), decidiu dizer alto e a olhar para indivíduos pretos que se encontravam na sala "aquela escumalha!". Eu achei que tinha de deixar a minha opinião... e tentei deixar de maneira a não atingir ninguém, mas com um cheirinho de cada Português!
Se algum leitor se atingir... é porque chegou ao ridículo de ser parecido com uma das minhas "personagens".

Ideias diferentes, mas todos iguais III

O Lado “cabeça preta, roupa branca (para dar style man)”

- “Ma man”! Então com é? Se bem? Pá ouvi dizer que querias falar comigo lá por causa da cena do arrastão... Para já que fique bem esclarecido, e tu sabes bem disso (se nao levas uma facada no rim, porque eu sei muito bem onde fica o rim... e só nao é nos estômagos porque tenho medo de falhar e dar no cérebro) que eu estudo de dia lá para os lados de Lisboa
- Eu sei, é no Casa Pia não é?
- Não interessa agora o nome. Pronto, estudo de dia e trabalho de noite.
- No Mac Donalds?
- Epá! Tu e os nomes... o que é que isso interessa? São pormenores. O que interessa é que estudo e trabalho, e dou dinheiro à minha mãe.
- É verdade, sempre lhe deste o dinheiro da arma que me vendeste?
- Qual arma man?
- Aquela que me vendeste bué cara, mas disseste que tinha de ser, porque a tua mãe estava doente, e precisavas de lhe comprar remédios.
- Achas man? Para já não te vendi nenhuma arma. Que fique bem esclarecido, porque senão já sabes que o teu rim... A minha estava doente sim, por isso fanei os comprimidos ali na farmácia na esquina. E nesse mesmo dia o Estado mandou dinheiro, e eu aproveitei e fui logo comprar uma Televisão Plasma, para a coitada da cota se entreter com alguma coisa.
- Epá está bem, mas conta-me lá a história do arrastão.
- Então foi assim: Eu cheguei à praia com 30 amigos, e atrás vinham mais uns 4 grupos, cada um com cerca de 30 a 40 pessoas. Eram todas pessoas que costumam ir muito à praia, porque estavam todos muito morenos.
- Morenos? Não seriam pretos como nós?
- Mas quais pretos? Aqui ninguém é preto, só nos deixaram tempo de mais ao Sol, e é por isso que o Estado agora nos dá tanto dinheiro... porque se desleixaram com o tempo de cozedura. Continuando... cheguei à praia e reparei que tavam lá bué primos e irmãos e amigos meus, juntei-me logo a eles, naquela do convívio. Havia um deles que traziam música e começámos todos a dançar. Sabes como é, a policia começa a ver-nos todos no roça, roça lá com as damas, e não gostou. Vieram logo 300 policias
- 300? Nas noticias estavam a dizer que na altura do acontecimento, na praia estavam 12 policias. Só depois é que chegaram mais... mas nunca chegaram a ser 300...
- Fogo! Tu e os pormenores... cala-te lá com isso e deixa-me acabar. Chegaram os policias, e começaram a correr atrás de nós... Desatámos logo todos a correr, para fugir deles, e como estava muita gente na praia e com montes de coisas, (porque os brancos levam a tralha toda para a praia) essas tais coisas foram saltando e agarrando-se a nós. Olha a mim saltou-me uma mala de mulher e encaixou-se mesmo no meu braço. Achas que eu queria uma mala de mulher para alguma coisa? Ah! E só quando cheguei a casa é que reparei que caíram 4 telemóveis em cada bolso. Queres um cigarrinho traçado?

Ideias diferentes, mas todos iguais II

Lado “cabeça branca, roupa preta”

- Epá pegava-se naquela escumalha toda metia-se num contentor e íamos brincar ao Kursk ali pá beirinha do Tejo.
- Kursk? Que jogo novo é esse?
- Tas a ver o submarino russo que afundou com montes de tripulantes lá dentro, e morreram todos, porque ninguém se preocupou muito, porque iam perder montes de dinheiro a salvá-los?
- Tou!
- O submarino chamava-se Kursk
- Fogo! Não sejas assim.
- Um preto esfaqueado, é menos um telemóvel roubado. Já dizia a minha tetra-avó de quem eu gosto muito. Cada vez que lá vou a casa, ela dá-me festinhas na cabeça sem cabelo algum (nem um, porque eu verifico todos os dias), tira-me as botinhas de couro, e diz-me muito serena “Ò netinho gosto tanto que andes por aí pelo País a lutar pelos nossos direitos, és muito corajoso e lutador. É pena é que tenhas de ter rapado o cabelo, tinhas um cabelo loiro tão lindo.” Sabes é que eu sou muito sensível, e muito caseiro também. Só saio de casa à noite, para ir para as raves dar encontrões, beber cerveja, e gritar “morte aos pretos”. De vez em quando lá vai um cigarrinho traçado, mas é só para motivar.
- Sabias que essa droga, na maioria das vezes é fornecida pelos pretos que tanto odeias?

Ideias diferentes, mas todos iguais I

O lado “cor-de-rosa”
- Ó sócio tem calma pá! Eles naquele dia estavam desinibidos, e também ia haver à noite um festão na Kadoc, e eles precisavam de fornecimento. Pensa lá bem, até foi bom o arrastão, tu é que não soubeste aproveitar. Ias nessas noite ao festão e tinhas um paraíso para os brancos, oferecido pelos negros. Olha pastilhas, eram tantas, tantas, que não tinha de te ficar só por uma... podias tirar a barriga de misérias, punhas logo umas 10. Depois também havia os cigarrinhos traçados, vê lá! Já “feitinhos” e tudo... o trabalho que eles tiveram para os fazer, tão queridos.
- Epá mas drogas não é bem a minha onda...
- Ó sócio na boa! Tinhas o outro paraíso... tinhas os telemóveis e máquinas fotográficas digitais vindos directamente de Carcavelos, com garantia, essa arranjada lá no bairro deles, que não é no município de Cascais... confirmou-nos o presidente da câmara. E depois os relógios e colares à maneira. E olha que eram de ouro e prata... que isto sei eu, porque vi, que os coitados dos negritos, deram-se ao trabalho de andar a morder os colares, para verificar se eram mesmo de ouro e prata. Achas que roubar é fácil? Levaram uma porrada dos policias, e mesmo assim foram até ao Algarve e tiveram este trabalho todo, só para nos vender bom material. E ainda melhor, no dia a seguir, cansadíssimos de tudo isso, ainda foram à Quarteira, arranjar material para trazer para cima, para vender ao people de Lisboa. Assim ninguém ficava chateado, agradavam a todos. Mas o pessoal da Quarteira é sovina.