quinta-feira, maio 22, 2008

O Plantel

Normalmente apoio-me muito nos elogios e no reconhecimento dos meus actos. Ás vezes chego mesmo a desprezar o meu trabalho só porque ninguém reparou. Criancice... “só tens garra para aquilo que não deves” (by Sempre, A Mesma de).
Mas houve uma luta, uma guerra mesmo, em que 99% das vezes acreditei que conseguia levar sempre a melhor. Acreditei, agi, e vi várias vezes os meus actos praticamente autodestruírem-se, tal e qual as mensagens ultra secretas do FBI (nos filmes, claro), mas durante muito tempo não desisti. Com o tempo passei de tanque de frente de guerra a treinador de futebol, esperando no banco que a aprendizagem tivesse um efeito eficaz. Mas este jogo tinha mais de 90 minutos, e a paciência não é decerto uma virtude do Carneiro. Assim, lá ia gritando tácticas para dentro de campo, esperando que se traduzisse em técnica.
O meu trabalho, desse não duvidei, e considerava-me um autêntico Mourinho. No entanto, os resultados caracterizavam-me mais como o Manuel Joaquim que treina os infantis do Cascalhense Futebol Clube (C.F.C. para os adeptos fieis).
Com o decorrer deste campeonato apercebi-me que na bancada a culpa é sempre do treinador, na equipa técnica a culpa é sempre dos árbitros, e no plantel a culpa vai saltando de alvo em alvo. Ora agora a culpa é minha, ora agora a outra equipa é invencível, ora agora a culpa é do treinador. Tudo dependia do estado de espírito do plantel e da relação deste com o treinador (para os mais desatentos, eu).
Na primeira época, perdeu-se o campeonato mas lá se ganhou a taça (tal e qual Sporting), na segunda época perderam-se as taças todas mas ficou um acesso para outro campeonato da época seguinte (sim tal e qual Benfica), na terceira época desceu-se de divisão (se acontece ao União de Leiria porque não a mim?) e a meio da quarta época... despediu-se o treinador (e aqui tal e qual Mourinho, desempregado mas ainda o melhor do mundo).
Cansada de levar lenços brancos, e com a realidade a puxar-me para fora de campo, saí derreada e sem louros. Percebi que essa luta (campeonato para quem estava a gostar do relato) para além de ser desleal, já não era uma luta minha. As equipas adversárias praticamente subornavam árbitros e usavam dopping, e o meu plantel deixara de ser meu, para passar a auto treinar-se. Deixei de ser a base... essa agora é mais clara, mas também mais alucinogénia e desaparece num inspirar.
Por fim apercebi-me, finalmente, que o poder castrador que soprava da bancada, não só desconcertava o plantel como dava força aos adversários. Errada estava eu em lhes chamar adeptos, pois eles é que são os verdadeiros árbitros, que julgam e decidem, e que não deixam de criticar mesmo depois do apito final.
Um dia cairei no esquecimento... não quando um novo treinador mostrar o valor do plantel, nem quando este esquecer essas 4 longas épocas, mas sim, quando os sussurros vindos da bancada cessarem e só se ouvirem os belos cânticos das claques.


Deitei a toalha ao chão, deixei o equipamento suado no cacifo, queimei o caderninho com as milhentas tácticas... e nesse estádio se um dia voltar a entrar, direi que “ só cá vim mesmo ver a bola”...

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