sábado, novembro 10, 2007

Muito me contas

- Fogo estúpido do homem ainda estava a refilar.
- Que foi?
- Foi o parvo que parou porque quis e ainda estava com gestos “Vá passem lá!”
- Oh! Eu não passava. Eu é que não reparei, se não, não atravessava e deixava-o ali especado até ele ter de arrancar de novo. Não “éi”?
- “Éi” – Riu-me desta bela atitude.
Muito me ensinas tu. Nunca dás muitas confianças, os outros que se rebaixem á sua mera condição de “pessoas”, e que não se armem em parvas. Assim está sempre tudo bem.
E as histórias? O senhor que comeu tanta papaia (ou será mamão), que ficou a lançar pevides para o tecto. Os japoneses com os seus rituais e a sua língua estranha, que nas tuas histórias mais parecem criaturas do circo a fazer-me rir. Os macaquinhos de certos navios, com a sua língua que não é português nem é crioulo, “que não é nada, sim porque aquilo não é nada”. As tuas expressões em voz alta em pleno centro comercial só para ouvires a mamã dizer “oh fala baixo”, eheheheh…. Espremes o ridículo das pessoas, e expões de uma forma tão espojada que fazes toda a gente rir á gargalhada. E o teu ar durão que se baseia numa postura forte e imperialista desfaz-se quando dás um pequeno sorriso que faz toda a gente tremer, sem saber se se podem rir, ou é melhor ficarem quietinhos. Nunca me esqueço de uma bela noite que me levaste a mim e a mais dois amigos á porta do “Queens”. Eles iam lá atrás muito quietinhos, cheios de respeito tentando adivinhar se tu eras daqueles pais “mauzões”, e eu cá á frente a gozar o prato. Nisto no rádio começa a tocar uma música conhecida. Os três cantarolámos o refrão. Nisto com uma voz muito grave e de ar muito sério disseste: “Oh! Este rádio agora transmite em estéreo?”. Fez-se logo silêncio, e foi-se assim até ao destino. Quando saímos, e tu foste embora a primeira pergunta que a Inês fez foi “Achas que o teu pai ficou chateado?”, não percebi a pergunta, ao que ela explicou “por estarmos a cantar”. Eheheheheh
E as aulas de Inglês? Ai as aulas de inglês. As explicações de matemática trocavam-me sempre, mas como gostava, até fazia um esforço para perceber essa nova matéria que me explicavas, e que nenhuma professora ou livro ensinava. Chegava-se ao mesmo resultado, mas em vez de ser por equações já decoradas, era por decomposição e explicações do “isto que vai dar àquilo”, e muita lógica… a matemática verdadeira. A que tem mesmo piada, e que só a professora da faculdade exibe em quadros imensos de letras, não sabe é explicar como tu. Lembro-me uma vez, acho que no 7º ano, levar um exercício feito para a aula, que me ajudaste a resolver em casa. Toda contente ofereci-me para ir fazer ao quadro, e depois de escrever tudo direitinho no quadro, a professora olhou e sorriu e alguém disse “Professora isso está mal, eu não fiz assim.” Ela levantou-se e perguntou ao pé de mim para poucos ouvirem, “Fizeste isso sozinha?”… corei e respondi “Não, pedi ajuda ao meu pai”. Mais uma vez sorriu e disse á turma “Não está mal, está certo, pode-se dar várias voltas. Vai-te lá sentar, está bom. Agora vou explicar da outra maneira”. A partir daí, confesso, das outras vezes que me ajudaste, tentei depois fazer como a professora ensinava na aula. Até ao 10º, em que a magia da matemática desapareceu e lá assumi de novo os teus ensinamentos como valiosos.
Mas onde andava eu? Ah! Nas aulas de Inglês. Ai essas aulas que tanto faziam rir a mamã. “ Não é tumórrrrrooouuu! Sopinha de massa.”. Quando trazia uma negativa para casa, e tu estavas cá, ouvia a minha mãe dizer “Vai lá rever o teste com ela, para veres o que ela está a falhar”. Ui! Até tremia. “Vamos lá ver essa “jana” então!”. Eheheheh.
Mas o ler é que era o drama. Jesus! A cada três palavras ouvia “Mariana lê lá isso como deve de ser, enrolas isso tudo pah!”. Os anos passavam-se, o Inglês complicava e a minha mãe dizia, “pede ajuda ao teu pai”, e eu muito rapidamente me safava “não deixa lá, eu consigo”.
Também não me esqueço das horas, em que em 15 minutos me ensinaste tudo, e passaste o resto da noite a perguntar “ E agora, que horas são?”. E da bicicleta, que peguei nela, tu apoiaste-me durante uns minutos, quando largaste andei á roda, dei uma data de voltas sem cair, e tu todo contente. Logo a seguir, montei a bicicleta de novo, pensando que já sabia andar muito bem, e pumba, caí para o lado. “Oh! Então? Ainda agora estavas aí toda lampeira a dar voltas, e agora cais sem mais nem menos?”
Muito me ensinas tu… muito me ensinas!

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